sábado, janeiro 24

Cuidados Especiais em Pessoas com Muitas Pintas

(por: Dr. Ivan de Oliveira Santos é médico, especialista no tratamento de tumores de pele e professor de cirurgia desses tumores na Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo.)

Em média, as pessoas têm de 17 a 25 pintas, mas há aquelas que chegam a ter mais de cem pintas, fato que se repete em outros membros da família. Essas precisam ser observadas, especialmente se houver um caso de melanoma num tio ou num avô, por exemplo, porque isso caracteriza a síndrome do nevo displásico ou síndrome do nevo atípico.
Como existe a possibilidade de o melanoma ter origem congênita (8% dos casos), há grupos familiares com incidência maior da doença por causa do número de pintas, pois é evidente que quanto maior ele seja, maior a incidência desses tumores.
No nosso país, talvez pela miscigenação das raças, em 100.000 habitantes apenas 7 ou 8 têm melanoma. No estado de São Paulo, um levantamento realizado em 17 cidades revelou que apenas 4 pessoas em 100.000 desenvolvem a doença.

O melanoma malígno é um tumor que aparece sobre as pintas já existentes e que apresentam alguns sinais importantes:

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Na imagem 2, aparece uma lesão pigmentada característica que exige, pelo menos, uma biópsia. Chama a atenção sua assimetria, ou seja, se cortarmos a lesão no meio, uma metade não vai se sobrepor sobre a outra horizontal e verticalmente. Outra característica importante são as bordas irregulares, semelhantes ao desenho do litoral num mapa geográfico. Não se trata de uma lesão redondinha, própria das lesões benignas. A terceira característica está na multiplicidade de cores. Há partes róseas, outras mais escuras, outras negras, marrons, cor de bronze e alaranjadas. As lesões benignas não são assim. Por fim, chama a atenção o diâmetro maior do que 6mm, uma medida que corresponde ao tamanho do fundo de um lápis.
Portanto, a regrinha básica para reconhecer um melanoma maligno e a do ABCD: A de assimetria, B de bordas irregulares, C de cor e D de diâmetro. Se a pessoa tiver uma pinta com três dessas características, deve procurar imediatamente um médico.

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Essa lesão parece ser grande, é assimétrica, tem bordas irregulares e cores diferentes. É negra apenas numa das pontas e de outra cor no restante do nevo. Na imagem 4, também existe uma multiplicidade de cores e contornos irregulares. No centro, há uma área despigmentada que, às vezes, pode indicar uma área de regressão, isto é, a pinta foi se modificando e perdeu a cor escura que havia naquele lugar.  4

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Nessa imagem, trata-se de  uma lesão um pouco mais saliente, assimétrica, com bordas irregulares, cores diferentes e diâmetro maior. Essa lesão vegetante indica um caso grave de um melanoma em evolução. É evidente que quanto mais espessa a lesão, maior a possibilidade de ter-se aprofundado e dado origem a metástases, ou raízes.

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A pinta que coça deve sempre ser observada. Às vezes, trata-se de uma queratose seborréica, uma lesão superficial sem complicações. No entanto, isso não  invalida que a lesão seja acompanhada atentamente.

 

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A imagem 9 mostra um caso mais grave: um melanoma volumoso e já ulcerado. A ulceração sempre indica um prognóstico pior.                                                       A pinta que sangra Tem que retirar sempre. Antigamente, aprendia-se na escola que o melanoma era um caroço ulcerado do qual saía sangue e que, muitas vezes, doía. Por isso, o diagnóstico era feito tardiamente. Hoje, tentamos fazê-lo cada vez mais cedo, tanto observando as características preconizadas pela regrinha do ABCD como pela dermatoscopia. Assim, conseguimos curar muito mais casos de melanoma do que curávamos no passado.
No Hospital do Câncer, por exemplo, a maioria dos pacientes que recebíamos tinham lesões avançadas. Isso está mudando. As pessoas estão mais informadas o que facilita a prevenção secundária, ou seja, a possibilidade de acompanhar as pintas que nasceram ou estão crescendo e que apresentam características como assimetria, bordas irregulares e multiplicidade de cores. Resultado: pegamos lesões iniciais que podem ser curadas em quase 100% dos casos, dependendo da espessura. Se a espessura for maior do que 4mm, porém, aumenta a probabilidade de formação de metástases o que complica o quadro e dificulta a cura.

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O estudo realizado na Universidade Federal de São Paulo revelou resultados bastante interessantes. Durante uma das campanhas promovidas pela universidade, fizemos uma enquete com a colaboração de alunos e residentes para verificar o que as pessoas sabiam a respeito dos danos causados pela exposição excessiva ao sol. Para tanto, entrevistamos um número grande e diversificado de indivíduos e chegamos à seguinte conclusão: 70% a 80% dos entrevistados sabiam que o sol pode causar câncer de pele e envelhecimento precoce especialmente nas pessoas de pele clara. Apesar disso, essas pessoas admitiam que, no verão seguinte, gostariam de tomar sol porque se achavam mais bonitas quando bronzeadas. É interessante essa contradição. Entre dominar racionalmente a informação e mudar de hábitos, vai uma distância imensa.

Das dez horas da manhã até as três ou quatro horas da tarde, há prevalência dos raios ultravioleta do tipo B. Embora o comprimento de onda desses raios não seja tão longo quanto o do tipo A, ele é mais cancerígeno e provoca mais alterações na pele, entre elas o carcinoma espinocelular.
Sempre se acreditou que os raios ultravioleta do tipo A, que incidem no restante do dia, fossem menos maléficos, apesar de provocarem o envelhecimento precoce da pele por serem mais profundos. Ultimamente, porém, uma série de trabalhos sobre o assunto está relacionando esse tipo de raios à incidência de melanoma, entre todos o mais perigoso dos tumores, pois pode levar o indivíduo ao óbito. O basocelular e o espinocelular são carcinomas mais facilmente curáveis, embora, algumas vezes, provoquem deformidades. O melanoma, no entanto, tem maior capacidade de desenvolver metástases, popularmente chamadas de raízes, e de comprometer o funcionamento de outros órgãos. Por isso, pessoas de pele clara, principalmente, devem saber tomar sol.

 

O que é saber tomar banho de Sol?

Como regra básica, todos podem e devem tomar sol, mas para cada um existe um limite tolerável de exposição que deve ser respeitado. A pessoa pode identificar seu limite, observando o eritema, ou seja, o vermelhidão ardido que se forma na pele e que incomoda à noite. Há pessoas com pele muito sensível que vão à praia, por exemplo, e nunca conseguem ficar morenas. Essas, infelizmente, não podem tomar muito sol porque não foram preparadas pela natureza para morar em países tropicais como o Brasil ou a Austrália, onde o sol é intenso. Já uma pessoa com pele que chamamos do tipo 3, a que vai à praia e logo consegue ficar moreninha, não tem tanto problema porque essa coloração funciona como um filtro solar que a natureza lhe deu, aliás, o melhor filtro solar que existe, pois protege bastante contra os raios ultravioleta do sol.

Um comentário:

Seja Experiência Real Viva disse...

Ótima postagem, gratidão pelo serviço!!!